terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Temperaturas baixam mas país escapa ao frio extremo da Europa


© EPA/KOCA SULEJMANOVIC Em Belgrado, capital da Sérvia, a temperatura era ontem de 20 graus negativos, mas atingiu os -30 nas zonas montanhosas

As temperaturas devem baixar no fim de semana mas o frio em Portugal não causará, previsivelmente, problemas graves como os que se vivem em países geograficamente mais a norte em que a vaga de frio matou mais de 30 pessoas nos últimos dias. Para a Península Ibérica, o problema maior é a falta de precipitação, já a provocar uma situação de seca moderada. E é esta escassez de chuva que resulta mais das alterações climáticas, dizem os especialistas.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) prevê descida moderada das temperaturas mas no seu resumo para janeiro antevia até "valores acima do normal para todo o território". No seu boletim de dezembro avaliou a temperatura mínima do ar, 5,5º em média, com uma anomalia de -0.50º C, mas apontava que "valores inferiores aos deste mês ocorreram em cerca de 50% dos anos", desde 1971.

"As pessoas sofrerem com o frio é um fenómeno que acontece desde sempre. As causas são não estarem bem preparadas para lidar com a situação, como a falta de habitação, e haver grupos de população, como os mais idosos, que estão mais sujeitos a ficar vulneráveis aos problemas causados pelo período", disse ao DN Filipe Duarte Santos, geofísico e um dos principais investigadores portugueses que estudam o aquecimento global.

As notícias que chegam de mortes em países da Europa Central e do Norte ou Itália e Turquia permitem concluir que uma grande parte das vítimas são pessoas que não tinham habitação de qualidade, outras, em número considerável, são mesmo sem-abrigo, ou integram grupos mais vulneráveis como imigrantes ou idosos.

Para o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa, o maior problema deste inverno é a situação de seca. "As barragens em Espanha e em Portugal estão a 50%. Não são boas notícias tendo em conta que estamos no mês de janeiro. E esta é a face preocupante das alterações: a diminuição da precipitação anual acumulada na Península Ibérica - uma redução de 40mm por década, entre 1960 e 2015", explica.

Da mesma forma, Baltazar Nunes, investigador do Instituto Nacional dr. Ricardo Jorge, considera que as mortes provocadas pelas baixas temperaturas não derivam de fenómenos novos: "A mortalidade no hemisfério norte tem uma sazonalidade bem marcada, é mais elevada no inverno há muito tempo. Deve-se à maior circulação de infeções respiratórias e a outros fatores como as baixas temperaturas, de uma série de patologias cardiovasculares, diabetes, e outras."
 

É "sempre o inverno mais frio"

Prudente nas conclusões, Baltazar Nunes aponta que "hoje há um aumento da temperatura média, um aquecimento global. Mas há igualmente a capacidade da população se adaptar", mais nos períodos de baixas temperaturas do que na situação inversa. Também desvaloriza que haja mortalidade mais elevada devido a baixas temperaturas. "Estamos sempre a reportar que "este foi o inverno mais frio", mas não é claro que assim seja. Atualmente temos ferramentas mais afinadas, a informação é muito melhor e fazemos mais essa relação com os óbitos."

O frio tem "influência maior em certas faixas da população" e em Portugal é muito expectável em relação a outros invernos. Há períodos de temperaturas muito baixas e há os vírus respiratórios, a gripe, já realçada pela Direção-geral de Saúde (DGS), que levará a picos de mortalidade. "Nada de muito diferente do que já vivemos. É importante a vacinação para certos grupos de pessoas e isso está a ser promovido. A DGS já alertou que houve uma mortalidade acima do normal neste inverno devido ao vírus da gripe dominante, mais forte e associado a epidemias, e às temperaturas baixas. As vítimas têm em maioria mais de 65 anos e muitas não tinham sido vacinadas.

O investigador diz que é difícil ter certezas sobre o impacto das alterações climáticas na saúde. "Ainda é precoce fazer essa análise. Há um aumento de calor excessivo e esse é o principal facto, mas precisamos de maiores períodos de observação."

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