segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Por que a China aboliu a regra do filho único em 2 gráficos

Um bebê chinês no colo da mãe participa de manifestação em Pequim, China, em 16 de setembro de 2012
Um bebê chinês no colo da mãe participa de manifestação em Pequim, China, em 16 de setembro de 2012.


A China abandonou a política de filho único e vai permitir que os casais tenham dois filhos.

A decisão, tomada pelo comité central do Partido Comunista e comunicada pela agência estatal Xinhua, tem como objetivo "balancear o desenvolvimento populacional e enfrentar o desafio de uma população que envelhece".

A decisão não surpreende, mas representa o fim de uma era. A política do filho único foi imposta em 1979, quando a taxa de fertilidade era de 2,81 filhos por mulher e o governo temia que o crescimento populacional fosse fugir do controle.

Poucas exceções eram permitidas e a fiscalização era intensa. No longo prazo, a preferência pelo sexo masculino gerou um excedente de homens solteiros que deve chegar a 30 milhões já em 2020 e causa tensões sociais.

"Isso não tem paralelo no mundo e talvez seja um dos exemplos mais draconianos de engenharia social já vistos", diz Feng Wang, do centro de política pública Brookings-Tsinghua.

Em 2013, a taxa de fertilidade já havia caído para 1,17 filho por mulher, abaixo do nível de renovação de gerações, e o governo começou a flexibilizar a regra - mas não conseguiu atingir a meta de gerar 2 milhões de novos nascimentos desde então.

A preocupação é económica: o boom demográfico do país já passou. Veja no gráfico: a azul estão os jovens, na cor salmão estão aqueles em idade de trabalhar e a verde estão os idosos.






Esta situação significa que há cada vez menos jovens a 'sustentar' cada vez mais idosos. É o desafio das pensões, generalizado nos países desenvolvidos e que agora chega aos emergentes. 

Veja a evolução da taxa de dependência (proporção entre aqueles com mais de 65 anos e aqueles entre 15 e 64 anos) na China e no Leste Europeu:


"A política do filho único, estendida por tempo demais, significou que o apoio aos idosos ficou cada vez mais escasso. Com uma rede de proteção social insuficiente, a poupança pessoal cresceu como forma de guardar para a reforma", diz um relatório recente do Morgan Stanley.

"Apesar de uma proporção maior dos idosos trabalhar na Ásia do que na Europa ou na América do Norte, o aumento da longevidade vai aumentar a taxa de dependência na China e em outros lugares. O resultado será um declínio na taxa de poupança pessoal e no balanço de conta corrente da China - o que já começou a acontecer".

O desenvolvimento vertiginoso da China nas últimas décadas foi baseado num modelo de muita poupança e investimento.

Só que essa situação chegou ao limite e a China está a desacelerar. As reformas no país, incluindo o fim da política do filho único, são tentativas de caminhar para um modelo com mais ênfase em consumo, serviços e inovação.

Adaptado da Revista Exame.com, João Pedro Caleiro.

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