Para o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa, o maior problema deste inverno é a situação de seca. "As barragens em Espanha e em Portugal estão a 50%. Não são boas notícias tendo em conta que estamos no mês de janeiro. E esta é a face preocupante das alterações: a diminuição da precipitação anual acumulada na Península Ibérica - uma redução de 40mm por década, entre 1960 e 2015", explica.
Da mesma forma, Baltazar Nunes, investigador do Instituto Nacional dr. Ricardo Jorge, considera que as mortes provocadas pelas baixas temperaturas não derivam de fenómenos novos: "A mortalidade no hemisfério norte tem uma sazonalidade bem marcada, é mais elevada no inverno há muito tempo. Deve-se à maior circulação de infeções respiratórias e a outros fatores como as baixas temperaturas, de uma série de patologias cardiovasculares, diabetes, e outras."
É "sempre o inverno mais frio"
Prudente nas conclusões, Baltazar Nunes aponta que "hoje há um aumento da temperatura média, um aquecimento global. Mas há igualmente a capacidade da população se adaptar", mais nos períodos de baixas temperaturas do que na situação inversa. Também desvaloriza que haja mortalidade mais elevada devido a baixas temperaturas. "Estamos sempre a reportar que "este foi o inverno mais frio", mas não é claro que assim seja. Atualmente temos ferramentas mais afinadas, a informação é muito melhor e fazemos mais essa relação com os óbitos."
O frio tem "influência maior em certas faixas da população" e em Portugal é muito expectável em relação a outros invernos. Há períodos de temperaturas muito baixas e há os vírus respiratórios, a gripe, já realçada pela Direção-geral de Saúde (DGS), que levará a picos de mortalidade. "Nada de muito diferente do que já vivemos. É importante a vacinação para certos grupos de pessoas e isso está a ser promovido. A DGS já alertou que houve uma mortalidade acima do normal neste inverno devido ao vírus da gripe dominante, mais forte e associado a epidemias, e às temperaturas baixas. As vítimas têm em maioria mais de 65 anos e muitas não tinham sido vacinadas.
O investigador diz que é difícil ter certezas sobre o impacto das alterações climáticas na saúde. "Ainda é precoce fazer essa análise. Há um aumento de calor excessivo e esse é o principal facto, mas precisamos de maiores períodos de observação."
Sem comentários:
Enviar um comentário